sexta-feira, 29 de maio de 2009

MINHAS MEMÓRIAS ESCOLARES

Nasci, em Santo Amaro da Purificação, Recôncavo baiano. Aos três anos, ingressei numa instituição filantrópica de jardim de infância. Por se tratar principalmente, de uma cidade pequena, as relações construídas com colegas e professores formaram sólidos laços afetivos. Muitos destes acompanharam-me do primeiro ao ultimo ano de banco escolar.
Lembro-me vividamente do meu primeiro dia de aula e do choro persistente por na compreender aquele novo contexto. Recordo dos imensos espaços verdes onde realizava-se pequeniques, do colorido das salas e dos parques. Eram os locais onde se abria as portas para um universo imaginário, recheado de canções, desenhos, pinturas modelagens, e cujo ingrediente principal não faltava, as brincadeiras. Situações estas consideradas potencialmente relevantes para Froebel – o criador dos jardins de infância - ao compreender o estímulo da imaginação infantil imprescindível para desenvolvimento da criança.
Os ideais desta escola, ao priorizar o sentimento o interesse a espontaneidade e a criatividade foram tão influenciadores que aprendi a ler antes mesmo de cursar a série de alfabetização. Hoje, entendo que essas características institucionais têm suas raízes fincadas nos ideais construtivistas influenciados por teóricos como Emília Ferreiro e Jean Piaget, que conceituavam o aluno como ser ativo e o conhecimento como sendo resultante de uma construção contínua e interativa entre o sujeito e o objeto de conhecimento.
Durante o período que cursei a educação infantil minha família desempenhou um papel de suma importância. Em casa, a valorização do ensino escolar, bem como o intenso contato que tanto eu como minhas irmãs tínhamos com diferenciadas publicações, colocou-nos em contato com a leitura e a escrita desde a idade tenra. Todavia, esse estímulo não estava restrito as relações familiares. Conforme Vigotsk, os processos psicológicos são construídos a partir de injunções do contexto sócio cultural em sua totalidade.Isso aplica-se ao meu processo educativo.
Aos cinco anos, iniciei o curso alfabetizador e consequentemente mudei de escola. Chegando lá, eu já não via mais os parques nem o verde das árvores. O encanto de um mundo foi quebrado pela lousa e por uma palavra que agora fazia parte das nossas vidas,provas.Felizmente o ambiente da nova sala de aula continuava bastante acolhedor . A professora, popularmente chamada de Terezinha, era um reflexo da concepção pedagógica de caráter tradicional seguida pela instituição. Rígida e extremamente autoritária, utilizava castigos e punições como forma de manter a ordem. Ao ver como ela tratava os alunos minha mãe pensou em tirar-me dela. Ela ficava escondida observando as aulas e ao perceber que aquele modo rude e áspero de tratar não se aplicava a mim, mudou de ideia. Lembro-me que ela pediu que minha mãe guardasse com muito carinho meus boletins escolares e isso de fato aconteceu.
Da primeira a quarta-série, tive a mesma professora. Pode-se avaliar esse período a partir do que Paulo Freire chamava de “educação bancária”. As metodologias de ensino baseavam-se na transmissão de conteúdos pelo professor, enquanto o aluno era visto como mero receptor de conhecimentos. Contudo, isso nunca afetou-me negativamente,sempre fui compenetrada no que diz respeito aos estudos. Desconsiderando concepções que atualmente são amplamente difundidas, como a de Tizuko Morchida Kishmoto, que considera o jogo fundamental para o desenvolvimento do educando, seja ele tradicional, de livre criação ou vinculado a conteúdos escolares. A palavra ludicidade, no entanto, não fazia parte do cotidiano escolar.
Existiam espaços físicos que poderiam ser utilizados para entretenimento. Entretanto, o brincar era utilizado como moeda de troca, ou seja, brincava-se apenas se o comportamento fosse considerado adequado, como era de se esperar isso quase nunca acontecia, exceto em datas comemorativas. Quando chegávamos ao colégio, ficávamos em filas e após entoar canções religiosas e patriotas podia-se ordeiramente entrar nas salas. A aula então seguia no seu caráter conteudista. Apesar das inúmeras críticas que se faz a escola tradicional concordo com o que diz o professor Dermeval Saviane: ‘Qualquer pesquisador sabe que ninguém chega a ser cientista se não domina os conhecimentos já existentes na área em que se propõe a ser investigador.
Adaptar-me àquele modelo institucional não foi fácil. Muitas das crenças e conceitos ali inseridos iam de encontro com os transmitidos pela minha família. Entretanto foi lá que cursei todas as séries iniciais do ensino fundamental. Certo teórico de nome Ericksson designa oito idades inerentes ao desenvolvimento humano, sendo que o não usufruto adequado de uma delas acarretará vindouras conseqüências negativas. Acredito que a constante presença de brincadeiras de roda,faz de conta,jogos tradicionais e inúmeros outros presentes fora da sala de aula,sana qualquer déficit que a ausência de ludicidade no contexto escolar poderia designar.
Ao ingressar na quinta-série, passei a estudar numa escola marginalizada pela população local, por estar localizada na região periférica da cidade. Os freqüentes roubos e os atos de vandalismos cometidos pelos próprios alunos contribuíam para o preconceito que se tecia sobre a instituição e a decadência física da mesma. Em contrapartida,existiam excelentes professores que exerciam uma postura crítica frente as barreiras encontradas,Dispostos a influenciar positivamente os alunos a fim de tornarem-se alunos melhores e seres mais responsáveis.
Analisando, no entanto a gestão escolar observo que não era a mais adequada. Compreendo a veracidade da concepção de Perez Gomes ao afirmar que a educação deve ser um processo de diálogo com a realidade natural e social, o qual supõe participação, debates e trocas de significados entre alunos professores e sociedade.Isso infelizmente não acontecia naquele colégio.
Na sétima série mudei de cidade e consequentemente de escola. Estando a nova instituição situada num grande setor urbano a nova realidade também era bastante diferente.Os professores eram bons no que referia-se a serem especialistas na área de atuação.Porém não exerciam uma postura crítica e reflexiva frente aos alunos. Ao invés disso a escola funcionava, conforme diz Althusser, como um aparato ideológico do estado, marginalizando o alunado por não igualá-los em termos de oportunidades, reprimindo e desmotivando os seus anseios.
Terminando a sétima série, voltei para a antiga escola, decidida a cursar o Ensino Médio na modalidade Normal. O curso teve duração de quatro anos e as relações criadas com colegas e professores foram bastantes afetuosas,visto que a mesma turma de alunas permaneceu durante todo o curso.Durante o processo tínhamos as disciplinas normais como Física ,Química e Matemática , além das matérias pedagógicas e metodológicas.Apenas no quarto ano tivemos disciplinas específicas do curso. Recordo com saudosismo desse período principalmente pelos mestres que ajudaram-me a gerenciar meus pensamentos e competências, a fim de que novos passos fossem galgados na senda do conhecimento.
Durante os anos de curso, chamávamos o Centro Educacional Teodoro Sampaio de a escola mais viva de Santo Amaro, devido aos constantes projetos realizados por professores, funcionários, alunos e comunidade, ampliando a atuação da Escola na comunidade, aproximando-a através de encontros artísticos e culturais, ao mesmo tempo, promovendo campanhas solidárias. Muitos destes eventos planejados de modo interdisciplinar, proporcionam aos jovens a oportunidade de exercitarem seus dotes artísticos, ao mesmo tempo em que desenvolvem uma postura crítica e consciente diante da comunidade em que vivem, valorizando a escola como agente propiciador de sua formação. Alguns destes projetos envolvem demais estudantes da rede pública e privada.
Sabendo-se da desmotivação e do pouco interesse da comunidade estudantil no hábito da leitura, o que consequentemente muitas vezes resulta na desinformação do alunado doa aspectos sociais econômicos e gerais que o cerca,atribuindo-se tudo isso a forma como a leitura é trabalhada desde cedo nas escolas, apenas como decodificador de sons e letras para que os alunos aprendam a ler e depois e cobrado deles como atividades para responder exercícios, provas, etc; tive o prazer de participar durante quatro anos de uma Feira de Literatura Infantil, realizada por professores juntamente com os alunos normalistas como forma de resgatar de maneira prazerosa o hábito da leitura nas crianças de Pré-Escola e Ensino Fundamental 1.
O projeto consiste em trabalhar com leituras de histórias infantis, contos, lendas, fábulas, poesias, etc. Momento em que a criança pode conhecer um universo de valores, pensar, agir o universo de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a forma de pensar e o modo de ser no grupo social ao qual pertence.Além disso, a literatura infantil proporciona o trabalho com o real, o imaginário, o fantástico, o que desperta no aluno o gosto e o prazer de ler.
Chegando ao último ano, iniciei um estágio em sala de aula imprescindível para a conclusão do curso. Para que isso acontecesse era necessário passar por um período de observação e co-participação em sala de aula onde levantaríamos os elementos necessários à elaboração de um projeto de estágio de regência voltado, sobretudo, para o desenvolvimento integral do aluno. Somente após a análise e aprovação dos coordenadores do estágio e escola de aplicação, iniciava-se a regência de no mínimo trezentas horas,os quais supervisionavam o processo. Optei por realizá-lo numa turma de terceiro ano.
Como eu já esperava o estágio não foi imune a inúmeros percalços, só não imaginei que seriam tantos. Eu sabia e idealizava teorias porém foram adversidades como indisciplina e inexperiência que fizeram-me entender o quão complexo é o processo educativo.Contudo, esforçava-me para colocar em prática alguns conhecimentos granjeados ao longo do curso ,principalmente os voltados para a ludicidade.Fazia isso por tentar dar sempre um caráter lúdico as aulas através de jogos, brincadeiras, contação de histórias. As barreiras ultrapassadas tornaram esta experiência ainda mais construtiva.
Hoje, cursando pedagogia considero que tecer esses relatos é permitir olhar para dentro daquilo que ficou guardado dentro de um baú da memória, pensado em relação à nossa vida, nos posicionamos no tempo, nas nossas relações sócias, produzimo-nos em nossa história, relembramos, capitulamos, repetimo-nos, transformamos. Este é um exercício eterno pois as experiências nunca terminam, elas são constantemente relembradas e retrabalhadas.Enquanto existir impressões, sentimentos, angústias, reflexões, haverá a necessidade de relatar.

Geovana Cardoso Fagundes Rocha

Memórias de uma docente da década de 90






Motivações intrínsecas e extrínsecas de ser professor.

Escolhi a profissão de professora movida pela vontade de ensinar e acolher. O desejo de estar cercada de meninas e meninos quietos, inquietos, emotivos, peraltas, calados, tímidos, carinhosos... O desejo de ser como algumas das minhas mestras... ( processo de sedução).

Inspirada em Jorge Larrosa: ser professor é o ensinar, é o aprender, é o educar na amizade, na compreensão, na liberdade, observando as diferenças individuais. É uma convocação generosa, carinhosa ao estudo, ao texto, isto é, à leitura.


Na década de 90 e como hoje também, os professores e as escolas estão com muito medo de renovar, inovar, arriscar. A diferença é que hoje reconhecem o medo e sabem que não podem ficar na mesmice e fazem cursos, muitos participam de congressos e não mudam. Os parâmetros curriculares na década de 90 lhes dão uma nova nomenclatura, um pouco de segurança, mas foram pouquíssimas mudanças. Muitos descobrem nesta década o construtivismo, que torna objeto de muito estudo (vira “modismo”). Não há diferença na escola de hoje e a de quinze anos. O excesso de conteúdos inúteis continua. Não reconhecem que o professor e a escola precisam se libertar dos livros didáticos. O professor precisa antes de tudo conhecer e reconhecer a literatura como arte. Precisa ler, ler, ler... A escola precisa ler, o diretor precisa ler, o supervisor precisa ler, o orientador precisa ler, o professor precisa ler, os funcionários precisam ler, os vigilantes precisam ler, o pessoal da cantina precisa ler, os pais precisam ler, os professores acadêmicos precisam ler. A escola precisa parar, se concentrar e passar aos alunos o amor à literatura. Leitura Fruição... A escola precisa dedicar um tempo diário à leitura.
Respirar o silêncio para as produções de leituras.

As faculdades de Educação precisam ensinar aos seus alunos e alunas o amor á boa literatura, numa forma lúdica e prazerosa. Mais produção de leitura leva à mais produção de textos.

“A literatura é feita de fantasia. A escola por ser servil, quer transformar a literatura em instrumento pedagógico, limitado, acanhado, como se o convívio com a fantasia fosse um bem menor.
A escola não percebe que a literatura exige do leitor uma mudança, uma transferência movida pela emoção. Não importa o que o autor diz, mas o que o leitor ultrapassa...”
Bartolomeu Campos Queirós


Vida acadêmica

Minha vida acadêmica foi muito confusa com mudanças e mais mudanças. Trabalhava, estudava... Pouca leitura, pouco aprofundamento. Não tive bons professores... Passei por três faculdades de Filosofia, uma no Rio, onde estudei durante três anos e duas em Salvador, Federal e Católica, dois semestres em cada... Faltou sedução.
Nada lúdico. O lúdico foi no magistério, muito processo de criação e ludicidade. Na academia nada.

AÇÃO PROFISSIONAL

O lúdico sempre esteve presente em minha prática.
O tempo de criação no planejamento das atividades lúdicas me possibilitava viver um sentimento de satisfação repleto de alegria. Foi crescimento tanto para mim como para meus alunos. Muita música, muita contação de histórias, poesias e projetos... A alegria de ensinar e de aprender transbordava e transborda no tempo presente.

Minhas aulas sempre foram repletas de momentos lúdicos. Claro que a cada ano elas foram crescendo mais e mais em valor de conteúdos literários, musicais, com novas descobertas, novas trocas, novas leituras. Fui me apaixonando pela literatura. Comecei a ser rata de livraria...

O livro didático me tolhia. Ficava presa, às vezes, revoltada em dar um conteúdo qnão iria sensibilizar os alunos e alunas, mas estava no livro. Textos que não me apaixonavam e tinham que ser lidos. Como seduzir o outro se não fui afetada? A gramática pura roubava tempo de produção de leitura e produção de texto!

Com o tempo o meu acervo literário foi crescendo, crescendo e crescendo... Descobri a importância da boa literatura na formação de leitores. Comecei a iniciar minhas aulas com contação de histórias. O livro era lido em capítulos no dia a dia. Todas as alunas e alunos chegavam curiosos para o “era uma vez...” A ida à biblioteca foi aumentando, como também o acervo ao meu pedido. Foi um processo de sedução. A poesia foi ainda mais valorizada em minha prática. Uma visita chegava e os alunos declamavam, cantavam... A auto-estima de cada menino e menina crescia, às vezes transbordava.

No final do ano os alunos escreviam uma carta aos alunos que iriam ser da 4ª série no ano seguinte. Eram textos dos ex-alunos e alunas apresentando a nova série para eles. Produziam com muita alegria, motivados e já com um gostinho de saudade. Anexei algumas produções.

Já no início do ano 2000, tive o apoio do departamento de Língua Portuguesa do colégio que era coordenado pela professora mestra, hoje doutora Lícia Freire Beltrão. Era tudo que eu queria... Mergulhei... Tive a fundamentação teórica que precisava e o apoio do departamento. O livro de literatura começou a ter o seu espaço devido em minhas práticas, já agora com a parceria do departamento de Língua Portuguesa

Tive alguns problemas com colegas professoras da mesma série, na década de 90, por trabalhar numa escola com muitos alunos e muitas turmas. As atividades precisavam ser iguais, às vezes, era mal compreendida por dar algo que não estava registrado no planejamento do mês, pois criava e recriava na véspera ao reler a aula e outras vezes na própria aula. As atividades e as aulas tinham que ser iguais para as seis turmas de quarenta e cinco alunos cada.

“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las”
Paulo Freire

A paixão por literatura me fez contadora ou contadeira de histórias, há sete anos. Cada dia fico mais apaixonada pela literatura e pela arte de contar histórias.
Se eu tivesse a chave de um baú da educação, colocaria todos os livros maravilhosos que toda criança e todo jovem precisa conhecer, viajar e sonhar.
Fecharia o baú com a certeza de que todas as meninas e todos os meninos serão bons cidadãos, bons profissionais, bons pais; serão sujeitos éticos, justos; terão um vasto conhecimento enciclopédico; serão felizes e saberão lidar com suas perdas e emoções. Quando se sentirem sós, tristes, felizes, amados, não amados terão a companhia de um bom livro.
...
“Certa palavra dorme na sombra /
de um livro raro. Como desencantá-la?
Carlos Drummond de Andrade

Lembrei de uma frase de Ziraldo: Dê a todas as crianças até dez anos só a boa literatura e noções de matemática. Depois comece a ensinar as outras matérias que estão no currículo.
Conclusão: Toda escola deveria estar envolvida em projetos de literatura. Todas as crianças sem exceção deveriam ser afetadas pela boa literatura.


“Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas.”
Carlos Drummond de Andrade

Educador palavra repleta de sentimentos de respeito, amorosidade, sedução embrulhada em papel transparente e picotado de liberdade, amarrada de esperança, salpicada de sonhos.


Mensagem

Seja um educador, uma educadora formando cidadãos, cidadãs com liberdade de criar e vivenciar a sua própria história, respeitando o outro em sua liberdade de ler, ser, dizer e amar.
Com minha reverência
*Regina Campana
Professora e contadora de histórias


*Maria Regina Campana Correia Leite

Bordando os fios da minha vida escolar


Recordar dos tempos da escola, como um todo, não é algo saudoso para mim. A escola nunca foi um lugar de diversão, acolhimento, grandes amizades ou uma segunda casa, como para muitos. Para mim a escola era o lugar para o qual eu ia a fim de cumprir obrigações – ler, escrever, “engolir” conteúdos descontextualizados e decorar trechos para copiar na prova. Posso dizer que “cumpri o meu dever”.
Segundo a minha mãe, entrei na escola com quatro anos de idade, em 1983. Chegara a hora do meu irmão mais velho (10 meses de diferença de idade) iniciar a sua vida escolar e eu chorava sentindo sua falta. A fim de minimizar a situação, minha mãe colocou-me na escola. Embora tímida e com pouca idade, eu superei as expectativas de todos. O que deveria ser um ano de brincadeiras foi um ano de alfabetização. Aos quatro anos, eu lia e escrevia como gente grande.
Era uma escola particular, localizada no bairro de Cosme de Farias, Alto Formoso, Bonocô. Escolinha Santana. Era multisseriada, não por concepção pedagógica, mas por falta de espaço físico. Tinha uma enorme e única sala de aula com quadros de giz espalhados pelas paredes. Em frente a cada quadro, grupos da mesma série se juntavam para copiar e fazer as atividades. A professora, Inês Santana Saraiva, dava conta de todos os grupos com a ajuda das suas filhas, que provavelmente cursavam ou já haviam terminado o 2º grau. Kátia e Sheila eram os nomes delas. Minha lembrança não é muito precisa. Recordo apenas de algumas cenas isoladas, como a cena de uma aluna sentada no sofá, chorando, por saber que no dia seguinte teria prova. Lembro também do caminho de casa até a escola. Era torturante, pois no caminho morava uma velha maluca de quem eu morria de medo.
Não sei qual era o método pedagógico aplicado pela escola, mas acredito que era uma escola que utilizava elementos da concepção pedagógica tradicional, pois minha mãe informou-me que livros eram adotados, tinham atividades mimeografadas e no caderno e muitas dessas eram copiadas pela própria professora. Tinham os testes e as provas e o lúdico não se fazia presente. Quando falo que usava apenas elementos da pedagogia tradicional é porque não recordo de a escola aplicar métodos de castigo ou punição para os alunos e a professora não se colocava como superior. A afetividade era algo marcante naquela escola. Minha mãe relatou que em um determinado momento eu me desinteressei pela escola e não queria mais ficar. A professora chorava junto comigo por achar que eu já não gostava mais dela. Acho que a professora Inês foi muito boa para mim. A verdade é que eu já havia absorvido muita coisa e ficar na chamada Alfabetização era desinteressante. O acompanhamento que tive da minha mãe durante esse processo de aprendizagem foi importante. Ela aguçava minha curiosidade e antes mesmo de a professora iniciar uma nova etapa ela já me apresentava coisas novas. Eu sempre correspondia. Fui avançada em séries e com seis anos eu já iniciava a 2ª série fundamental. Tive os cuidados da primeira escola até essa fase, pois tive que mudar de bairro e consequentemente de escola.
Ao chegar à nova escola, Centro Educacional Lílian Caline, em 1986, com as aulas já iniciadas, fiquei assustada. Muitos alunos nos corredores, escola grande, ambiente “agressivo” e crianças agitadas. Não houve acolhimento ou qualquer preocupação com a minha chegada. Eu só tinha sete anos, completaria oito apenas no meio do ano. Os colegas de sala tinham nove anos completos ou a completar. 3ª Série. Eu não compreendia os assuntos, não acompanhava o desenvolvimento do grupo e não tinha concentração. A minha sensação era de que a qualquer momento eu me perderia em meio à multidão. Não era menos inteligente que os demais, mas não conseguia entender o que eram as tais palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. Juan Casassus, filósofo e sociólogo especialista em Educação, afirma que “para transmitir o gosto pelo conhecimento, um professor precisa dominar os conteúdos de sua disciplina - e também saber acolher as turmas, identificando e trabalhando interesses e sentimentos” (Revista Nova Escola, 2008). Os meus sentimentos forem desprezados.
Tenho apenas lembrança de duas imagens na sala de aula nesse período. Em uma, todos os alunos sentados ordeiramente com uma folha de papel sobre a mesa virada para baixo. Era a tal prova! A outra imagem é a da aula das tais palavras terminadas em “xítonas”. Para mim, a palavra janela era paroxítona, e realmente é. Mas todos riram quando falei, pois a mesma palavra já havia sido dita por um colega, Cláudio. Foi uma situação constrangedora. E a professora que deveria ser a defensora, juntou-se à classe, só que com um riso mais discreto. Senti-me ainda mais desprotegida. Eu tinha medo daquela escola.
Nesse mesmo período ocorreu uma mudança na estrutura da minha família e isso com certeza influenciou a minha aprendizagem, mas só hoje tenho essa consciência. Sei que não poderia estar mentalmente disposta a absorver novos conhecimentos uma vez que não tinha nem mesmo internalizado uma nova realidade. A situação financeira já não permitia efetuar os pagamentos das mensalidades escolares em dia. Não lembro bem a cena, mas sei que fui impedida de fazer prova por não estar com a mensalidade paga. Se não me engano, alguns alunos levavam o carnê de pagamento nos dias de prova para conferência na secretaria. Saia então a lista com os nomes dos escolhidos a passar por constrangimento diante de colegas e professores. A secretária ia de sala em sala para fazer a “chamada”. Cheguei a descer do ônibus escolar juntamente com meu irmão por falta de pagamento. Voltamos para casa e fomos assistir aos desenhos animados na TV.
Foi um ano conturbado. Alguns dias em sala de aula e outros em casa. Próximo do término do ano letivo, fui informada por um colega vizinho, que estudava na mesma escola, que eu tinha ido para a recuperação. Recuperar o quê? As palavras “xítonas”? Não valeria a pena. Não poderia recuperar a antiga professora, a antiga escola, nem as outras perdas que para mim eram significativas. Faltou um olhar individualizado da escola para mim enquanto aluna. Eu era apenas mais um cliente para quem a escola prestava serviço. Sendo que o serviço era diferenciado de acordo com a condição financeira. Hoje percebo que a escola se tornou objeto de mercado, e a lógica do capitalismo, ensejada na visão do aluno como cliente e não como ser, subverteu a ideologia de ensino de qualidade para a promoção da formação do homem. A educação tem se transformado em produtos vendáveis. Venderam-me um produto e quando eu já não podia mais pagar por ele o mesmo foi-me tirado.
No ano seguinte tive que repetir a 3ª série. Já superada a fase conturbada, consegui concentrar-me nos estudos. O interessante é que mais uma vez eu estava em uma sala multisseriada por falta de espaço físico, mas não era tão organizada como a primeira. Foram assim as minhas 3ª e 4ª séries. Para mim tudo era fácil. Senti-me culpada por não ter compreendido as tais palavras “xítonas” no ano anterior. Como era fácil e medíocre aquele assunto! Foram dois anos tranqüilos. Conteúdos acompanhados nos livros didáticos, tarefa para casa nos livros, caderno, mimeografada, cópias de textos, tabuada, testes e provas. Mais um ano cumprido.
Durante essa fase a ludicidade nunca fez parte da minha vida escolar. Acho que não só pela falta de espaço das escolas, mas também porque a ludicidade não era encarada como algo de muita importância para o desenvolvimento do aluno. Hoje muitos já estão conscientes de que, se desejamos formar seres criativos, críticos e aptos para tomar decisões, um dos requisitos é o enriquecimento do cotidiano infantil com a inserção de contos, lendas, brinquedos e brincadeiras. Segundo Tizuko Morchida Kishimoto (2000) “o brincar é excelente recurso para observação dos interesses e ações da criança. Pelo brincar, a criança evidencia saberes e interesses, além de propiciar condições para aprendizagens incidentais”. Brincar é importante para a criança expressar significações simbólicas. Pelo brincar a criança aprende a simbolizar. A criança viaja no faz-de-conta, assumindo o papel de herói, professor, astronauta e todos os outros que a imaginação mandar. (Nova Escola, 2008)
A falta de espaço, brincadeiras e ludicidade na escola não comprometeram o meu desenvolvimento, pois tive tudo isso na minha infância, em casa, com meus amigos, meus irmãos e principalmente com a minha mãe. Sei que nem todas as crianças tiveram ou têm a compensação que eu tive. Lembro até hoje das historinhas contadas pela minha mãe: “No meio de uma floresta haviam dois bondosos irmãozinhos – João e Maria”. Até hoje sei cantar as músicas que acompanhavam as histórias. Minha mãe fazia-se bruxa, costurava roupas para minhas bonecas (foram poucas, pois não era meu brinquedo preferido), fazia lanches para piqueniques e ensinou-me as muitas brincadeiras tradicionais que depois compartilhei com minhas amigas. Brinquei de roda, pedra de capitão, fura pé, bolinha de gude, chicotinho queimado, cacique, seu mestre mandou, pega-pega, bate lata, mímica, rodei bambolê, pulei corda, elástico, joguei sete pedras, bandeirantes, baleado, vôlei e palitinho. Tudo isso com a cumplicidade da minha mãe que não só orientava essas brincadeiras, mas também participava de algumas delas. Nos tempos atuais, pais não têm tempo para ensinar seus filhos e muitos desconhecem as brincadeiras antigas e tradicionais. Vivi a ludicidade, por isso não me sinto prejudicada por não tê-la tido na escola, mas reconheço que as escolas precisam dar aos seus alunos algo mais do que conteúdos. Precisam fazer o aprender interessante e a ludicidade tem papel fundamental nisso. Brincar não é inato. Toda criança precisa aprender a brincar para se expressar e se comunicar. Cabe à escola uma parcela de responsabilidade nisso.
Aos dez anos, em 1989, ocorreu mais uma mudança de escola. Nessa nova escola cursei o antigo Ginásio. Escola pública. Clériston Andrade, no bairro de São Marcos. Local que me mostrou uma realidade que eu não conhecia. Até então eu tinha convivido com a agitação de alguns colegas de escola, mas nada comparado ao que vi nesta. Alunos extremamente agressivos, mal educados, descomprometidos e a maioria de condição social desprivilegiada. Professores indiferentes. Alguns não enxergavam ou fugiam da realidade. Lembro que no primeiro dia de aula a professora de Matemática estabeleceu algumas regras, exigências para poder dar aula. Fita, laço, tiara, prendedor de cabelo não poderiam ser de uma cor diferente da cor da farda. Chinelo, nem pensar. E o tênis tinha que ser preto ou branco ou azul. Não conseguia achar que aqueles alunos conseguiriam cumprir suas exigências. Não cumpriram mesmo. Não por rebeldia, mas porque a condição de vida daquelas pessoas não permitia que as cumprissem.
As turmas das quais eu fiz parte foram as melhores, as mais tranqüilas. Sempre fui da turma A. Geralmente era a turma dos alunos com menor idade. Eram mais comprometidos, mais educados e tinham as melhores notas. Estudamos juntos durante as quatro séries ginasiais. Recebíamos um tratamento diferenciado por parte dos professores. Com a nossa turma os professores conversavam e paravam nos corredores para dar atenção. Das outras turmas eles tinham queixas.
Algumas questões sociais ficaram evidentes durante esse período. Eu e meu irmão fomos vítimas de preconceito. Morávamos em prédio, por isso não tínhamos o direito de estudar em escola pública. Algumas vezes meu irmão teve que pular o muro para sair da escola ou saia no horário do intervalo e não voltava, para evitar ser pego pela “galera do mal”. Minha mãe por vezes foi à escola para tentar mudá-lo de turma ou de turno, mas não houve sucesso. Eu sentia medo e não queria ficar na escola. Ficava preocupada sem saber se meu irmão tinha conseguido chegar em casa.
Tinha uma colega de sala muito legal, alegre, risonha e comunicativa. Maria* era o seu nome. Alguns não gostavam dela. Ela tinha a cor da pele branca e também morava nos prédios. Posso dizer que ela era a única aluna branca com cabelos loiros em toda a escola. Tinha outra aluna, a Joana*que era negra e tinha Maria como uma grande rival. Tenho certeza que se tratava de uma questão racial. O modo como Joana se dirigia à Maria, como a tratava e as piadas deixavam isso evidente. O interessante é que Maria não era arrogante, prepotente, esnobe ou “metida”. Era apenas branca e falante. Joana por vezes derramou propositalmente lanche na carteira de Maria e dizia que era para ela aprender a não de ter nojo da comida da escola. Isso porque Maria, na maioria das vezes, tinha dinheiro para comprar lanche. Os alunos que compravam lanche ficavam visados. Eram vistos como os metidinhos que não comiam o lanche do colégio. Lembro da imagem dos pratos de macarrão com sardinha que eram servidos e dos muitos alunos que deixavam a escola logo após o horário do lanche. A comida era o atrativo para muitos deles. Vi também a violência de perto - homem armado esperando aluno na porta da escola e discussões entre alunos que resultavam em pancadarias.
Na sala de aula, os professores até que se esforçavam em transmitir o mínimo de conhecimento aos alunos. Na 5ª série as professoras de Arte e Língua Portuguesa adotaram livros o trabalharam com os mesmos até o final do ano. Alguns alunos da minha sala não puderam comprá-los, mas mesmo assim acho que foi o ano mais produtivo em termos de conteúdo. De modo geral, as aulas das demais disciplinas eram expositivas e copiávamos apontamentos e questionários no caderno. Avaliando o que aprendi nessa escola, digo que a 5ª série foi a única série realmente proveitosa. O livro de história foi o único que recebi em todos os anos. Os demais não chegavam para todos. Alguns problemas foram surgindo nos *Nomes reais foram preservados
anos seguintes: desinteresse dos alunos e falta de professor e de material adequado para trabalhar. Tinha sala que nem possuía quadro negro. Em outras, o quadro ficava apoiado em cadeiras. Os alunos interessados carregavam o quadro de uma sala para outra para o professor
dar aula. Por muitas vezes a vice diretora recolheu dinheiro dos alunos para comprar papel a fim de mimeografar as avaliações. Os alunos que não queriam copiar a prova do quadro e que podiam, contribuíam. As cadeiras eram poucas e quem chegava um pouco mais tarde ficava sem ter onde sentar e na hora do intervalo quem tinha cadeira para sentar não podia sair da sala, pois corria o risco de não encontrá-la ao voltar. Teve um ano que a escola começou a ser reformada, mas a obra não foi concluída a tempo de iniciar as aulas segundo o calendário do ano letivo. Começamos as aulas com atraso e nos deparamos com outro problema – não tinha cadeira. Estudamos durante esse ano fazendo rodízio. Uma semana de aula para cada série. O rodízio só terminou bem depois do início do segundo semestre. Acredito que todas essas coisas desmotivavam os professores e até aqueles alunos interessados.
Aulas de Educação Física só tinham valor para os meninos, pois eram nessas aulas que eles tinham a oportunidade de jogar bola em um campo de futebol. As aulas eram no turno oposto e isso me deixava ainda mais angustiada, pois tinha que estar na escola nos dois turnos. Mas isso só foi durante a 5ª série. Participei de todas as aulas - dar a volta no campo, correr e fazer alguns exercícios de movimento do corpo. Acho que algumas vezes tivemos jogos de baleado. No final do ano letivo todos os alunos que deixaram de fazer aulas de Educação Física foram para a recuperação que foi concluída em duas semanas ou menos. Nos anos seguintes compus o grupo dos alunos em recuperação. Era melhor do que passar todo o ano visitando a escola nos dois turnos para fazer Educação Física, que tinha como objetivo apenas cumprir a carga horária da grade curricular.
Não posso atribuir o conhecimento que adquiri a esse período escolar. Só me dei conta do fracasso do ensino público quando fui fazer um cursinho de revisão de Língua Portuguesa e Matemática a fim de fazer a prova do CEFET, antiga ETFBA. Era revisão para todos aqueles alunos oriundos das escolas particulares. Para mim, aluna de escola pública, era tudo novidade. A cada assunto revisado eu ficava ainda mais perdida. Fiquei revoltada com a escola que eu estudava. Achei injusto não saber, não conhecer os assuntos dados. Não era minha culpa. Se eu não sabia é porque não fui ensinada.
Sei que a mudança na estrutura pedagógica ao longo dos anos contribuiu para que a escola privada se sobressaísse à escola pública. As reformas propostas só contribuíram para maior elitização do ensino. A ênfase dada à qualidade e a exigência de escolas aparelhadas e professores altamente qualificados colocaram a escola pública em condição inferiorizada. Fiquei indignada com a decadência do ensino público daquela escola. Concluí que quanto mais periférica fosse a escola, menos se ensinava, pois tinha uma amiga que estudava no Serra Valle, na Pituba e o ensino não era medíocre como o da escola que eu estudava. O público era diferente. Era como se a escola e professores oferecessem apenas o que achavam que o público merecia ou poderia absorver. Eu me senti vítima. Estava na “platéia errada”.
Concluí a 8ª série e para mim foi um alívio deixar aquela escola, mas temia a nova jornada. Era muito difícil encontrar vaga em escola pública, não sabia onde iria parar, mas com o chamado QI (Quem Indique), consegui uma vaga no Colégio Estadual Luiz Viana, em Brotas. Como eu tinha preferência em estudar no turno matutino, só me restou cursar o Magistério. Era outra realidade de escola pública. O alunado era diferente do alunado da escola anterior. Alunos na maioria educados, comprometidos, responsáveis com os estudos, gostavam da escola. Não via paredes pichadas e cadeiras quebradas. Havia um controle de entrada e saída dos alunos. Os alunos que chegavam atrasados no primeiro horário eram impedidos de entrar na sala. As inspetoras fiscalizavam os alunos no horário de intervalo e tomavam as carteiras de cigarro que tivessem. Era proibido fumar dentro da escola. No horário do intervalo via alunos em rodinha de violão tocando MPB e rock nacional. Algumas vezes compus o grupo. O clima era de escola.
No Colégio Luiz Viana tive bons professores. Destacaria a professora Maria das Neves. Excelente professora de Língua Portuguesa e Literatura. Com ela aprendi a valorizar a literatura. Ficava impressionada em vê-la falando das escolas literárias sem precisar do auxílio de um livro. Citava os autores como se fossem seus amigos íntimos. Ela era muito exigente e eu vibrei, por ter sido a única aluna das muitas turmas do 2° ano, a acertar uma questão dissertativa da sua prova. Pela primeira vez li os romances brasileiros com satisfação. No ano anterior eu tinha lido alguns, mas a professora não era Maria das Neves.
No curso de Magistério algumas disciplinas eram voltadas para metodologia de ensino e os professores se mostravam resistentes à teoria construtivista. Apoiavam o método tradicional. Acho que eles ainda não entendiam a proposta. Tinham um conceito equivocado sobre a aplicação da mesma no ensino, principalmente no ensino infantil. A idéia era de que o aluno podia fazer tudo o que quisesse. Tive a oportunidade de trabalhar posteriormente com Educação Infantil em uma escola construtivista e pude perceber que não era bem assim. Vi que se tratava de uma educação que tinha o aluno como centro do processo de aprendizagem, que o aprender tinha que ser prazeroso e que cada aluno tinha o seu ritmo. Era importante aprender a aprender. Foi uma excelente experiência.
Durante o curso de Magistério tínhamos o apoio da escola, contávamos com a supervisão dos professores e esclarecíamos as dúvidas que iam surgindo. Mas meu estágio no 2º ano foi um terror. Contava os dias para que acabasse. Foi na Escola Municipal Joir Brasileiro que ficava dentro de um conjunto habitacional no final de linha de Brotas. Era uma turma de 1ª série que não conhecia uma só letra do alfabeto. Nos dias de observação pude ver que o trabalho da professora se resumia a colocar no quadro contas de somar e subtrair, não importando se os alunos sabiam fazer ou não, palavras soltas para separar as sílabas e cópia de textos. Alguns alunos tinham até a letrinha bonitinha, mas não sabiam ler uma única palavra que escreviam. Enquanto os alunos faziam as “atividades”, a professora batia papo na sala da diretora. Os alunos não tinham recreio por causa da agressividade. Perguntava-me o que seria daquelas crianças. Vi se repetindo o fracasso do ensino público que tinha vivenciado como aluna durante o ginásio. A professora dizia que não adiantava fazer esforço porque eram crianças que só iam para a escola para comer. Eram na maioria moradores dos bairros Saramandaia e Polêmica.
No 3° ano tive a oportunidade de estagiar em outra escola. Escola Syd Porto Brandão. Era pequena e a associação de moradores é que abrigava as salas de aula. Era uma turma de 3ª série. A professora era mal educada. Gritava muito com os alunos, mas acho que foi a fórmula que encontrou para manter a disciplina. No caso dela funcionava. A turma era uma 3ª série de verdade. Os alunos compreendiam o conteúdo, os assuntos eram trabalhados e existia um plano de curso que era seguido. Esse estágio minimizou meu trauma como professora e mostrou-me que o ensino público poderia ter qualidade, mas mesmo assim não tinha nenhuma intenção de ir para a sala de aula após concluir o Magistério. Só conseguia enxergar o cenário das coisas negativas que vivenciei enquanto aluna e estagiária.
Posso dizer que das vivas lembranças que tenho do tempo de escola, o período que estudei no Colégio Luiz Viana, de 1993 a 1995, foi o qual me senti aluna. Não me incomodava ter que acordar cedo, não retardava o meu horário, pois sabia que todos os dias às 7: 20h o professor estaria na sala. Gostava do barulho e da agitação das quadras. Bolas de um lado para o outro e alunos gritando durante os jogos de vôlei. Lembro da biblioteca cercada de alunos em silêncio enquanto descobriam os livros. Foi um bom período, mas não criei laços. Acredito que tenha sido pelo fato de nesse mesmo período ter passado pelo estágio tão conturbado. Não consigo dissociá-los.
Nunca tive grande afeição pela escola, conforme mencionado no início. Acho que a escola, de modo geral, foi decepcionante para mim, mas isso não significa que eu não tenha afeição pelo estudo. Gosto muito de ler e leio coisas diversas, desde o jornal que traz notícias do cotidiano até o livro de psicanálise. Amo literatura infantil e Távola. Hoje, cursando Pedagogia ainda não consegui me encontrar. Estou perdida. O curso ainda não atendeu minhas expectativas. Não me proporcionou encantamento. Acho que em algumas disciplinas os conteúdos foram superficiais. Senti-me algumas vezes como se estivesse na aula vaga, como numa das escolas públicas que estudei, por falta de professor. Desta vez, não que o professor não estivesse na sala, mas não aguçou a minha curiosidade e nem despertou o meu interesse. Ainda não fui seduzida pelo curso. Acho que alguns nós ainda estão bem atados. Espero que gradativamente eu possa desatá-los para iniciar um novo bordado.

Rosana Bernardo Gutierrez

Mini Flash Back Escolar.


Comecei a escrever a história da minha vida acadêmica partindo da educação infantil. Depois me veio à ideia de começar pelo início da minha formação acadêmica que é justamente onde eu estou agora. Começarei citando um trecho de Rubem Alves uma pessoa admirável pela qual tenho muita estima. Diz assim:

Talvez, então, a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dar sentido, princípio, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em sim mesmo, cada um contendo o sentido inteiro. Talvez seja esse o jeito de se escrever sobre a alma em cuja memória se encontra coisas eternas, que permanecem...]Alves, Rubem, 2004, p.89.

Estou onde sempre quis estar, todo ano sempre as mesmas promessas “ano que vem entro na faculdade.” Um dia tomei uma decisão, vou estudar!
Apesar das dificuldades resolvi enfrentá-las, e estudar está sendo um desafio constante, estou no 1º semestre e já pude ver o quanto eu quero seguir em frente, eu gosto desse ambiente de sala de aula, dos debates...
Terminei o 3º ano do ensino médio em 2002, não lembro quase nada daquela época, sei que a educação era a tradicional centrado no professor que passava os assuntos com atividades em sala de aula mesmo, lembro dos colegas de classe, eram bem interessados todos prestavam atenção na aula, pois era o ultimo ano e logo após viria à universidade, então o papo era sério.
Eu lembro que na época eu estava muito feliz, pois os colegas interagiam e todos estavam sempre dispostos a aprender, lembro que naquele mesmo ano, tivemos a ideia de fazermos outra camisa, além do uniforme tradicional da escola, uma colega teve a ideia de homenagear Jorge Amado e escolhemos uma frase dele que dizia: Temos plena convicção de que em breve podemos fazer muito mais do que hoje somos capazes.
Surgiram outras opiniões Che Guevara, Nelson Mandela, Gandy... Mais achamos a frase interessante, pois dizia muito do que queríamos fazer após o ensino médio.
No 2º ano do ensino médio tínhamos a professora de geografia que debatia temas atuais, os conflitos que atormentam o nosso país, as causas, as soluções, fazia a gente ler jornal, a ler mais sobre diversos assuntos, dentre eles a economia e política, debatíamos em sala de aula, essa metodologia de ensino me deixou muito surpresa, pois em minha opinião este método de ensino é bem mais proveitoso, todos partipam e é possível esclarecer dúvidas no momento oportuno.
Havia o professor de química que realizava pesquisa de campo, que eram feitas também na praia. Essa é uma questão bem pensada, sair da sala de aula e ir a um ambiente natural do assunto abordado.
No 1º ano do ensino médio havia menos interesse na turma,e por eu ter tido uma excelente 8º serie, foi tranqüilo.
Bom, 8º série estudava a tarde. Havia atividades lúdicas, feira das nações, que era organizado por turma e cada representava um País, proposto pelo professor, Que orgulho era fazer parte dessa turma.
Não gostava de matemática mais a forma diferenciada do professor me ajudava muito, pois ele passava em cada carteira explicando o assunto e era impressionante como todos ficavam entretidos.
Ah! A professora de língua portuguesa tinha uma forma diferente de ensinar as interpretações de texto levava musicas para que pudéssemos entender a letra, eram belas musicas, pois passei a gostar muito mais depois que ela nos apresentou. Toquinho, Vinicius, a bossa nova completas, ela passava o assunto de forma clara, Os conselhos que ela ensinava diante da vida, bem interessante...
7º série estudava à tarde também, e no ato da matricula, cheguei a pensar que não me acostumaria nunca, pois já estava habituada ao turno da manhã, naquele ano não havia 7º e 8º, turno matutino. Mais o contrário do que eu pensava, foi uma das experiências mais surpreendentes, pois eu me concentrava nos assuntos de todas as matérias inclusive de matemática.
Sinto falta da minha 7º série, sinto falta do Colégio Rotary, foi o ano mais gostoso do tempo de escola.
6º série matutino este foi no Colégio Estadual Governador Lomanto Junior.
Tudo normal nesta série conhecia a maioria dos colegas e professores, fase muito tranquila ou realmente não me lembra coisa alguma.
5º série esta é a minha segunda 5º série mais preparada depois do choque que foi eu ter perdido no ano anterior, lembro que perde em duas matérias e resolvir que este ano de 1996 seria diferente, focalizei as matérias perdidas do ano passado e estudei mesmo.
5º série, esta eu perdir em duas matérias, fui para recuperação mais não adiantou passei em educação física e perdir em matemática. Esta fase eu estava com 12 anos de idade e as amizades influênciavam muito a ficar na rua brincando e muitas vezes não fazia os exercícios, Filha de pais separados não tinha disciplína para estudar depois veio à fase dos namoradinhos, e atenção com os estudos foi zero. Eu lembro que fiquei com vergonha de repetir a série, pois quase todas as minhas amigas haviam passado de ano, e eu decide que o ano seguinte seria diferente.
4º série, esta fase foi bastante complicada, pois fui para conselho de classe, fui para a recuperação, não passei e voltei para o conselho de classe novamente, no dia do resultado final a professora me aprovou mediante muitos estudos nas férias, pois a série seguinte seria muito difícil pra mim.
Eu tinha dificuldade de aprendizagem assim foi revelado em muitas das reuniões escolares que a minha responsável frenquentava, lembro que eu fiz reforço escolar, e matemática era um bicho de sete cabeças, os professores eram atenciosos.
Lembro que certa vez fui a um passeio escolar promovido pelos professores, fomos a um clube, era de manhã bem cedo eu me recordo que neste dia acordei sem reclamar estava bem disposta, pois nos dias normais eu acordava com preguiça e fazendo “corpo mole” pra não ir à escola, mais neste dia foi diferente.
Ao chegar ao clube a professora responsável nos alertou da piscina, que tínhamos que ficar na parte rasa. Com meia hora depois eu esqueci o aviso e fui em direção a parte funda e me afoguei, foram alguns segundos que pareciam ser horas, vieram os salva-vidas e depois disso eu tive e tenho até hoje trauma de piscina.
3º série Feira de ciências com exposição de bichos, gincana de matemática, dia da leitura onde cada aluno escolhia a lição para ler em voz alta para os colegas e éramos sempre orientados pelo professor.
Houve um tempo que a merenda escolar era servida em sala mesmo e acho que ao terminarmos ficavamos em sala, sem recreio, não lembro muito bem mais talvez esse método tenha sido adotado por causa dos colegas que não tinha um bom comportamento no recreio, mas depois foi normalizado.
A disciplína que eu mais gostava era ciências, os exercícios eram respondidos no próprio livro e sempre na hora de corrigi-lo, a professora chamava de um a um em sua mesa.
2º série, Educação tradicional os assuntos eram leves, pois tive ajuda das minhas coleguinhas da rua onde morava brincavamos de escola e eu sempre fazia o papel da aluna.
1º série, antes de ir para escola uma Tia que na época era responsável por mim,
Ensinou-me a ler e escrever e também me encentivava a brincar de escola com as amiguinhas, Ela pretendia me matricular e gostaria que eu já tivesse noção de algo, também aprendir a ver as horas no relógio e a matemática.
Eu comecei a estudar muito tarde, deveria ter uns oito anos e meio de idade e quando eu entrei numa sala de aula não estranhei muito, pois a minha Tia já havia me ensinado muita coisa e eu lembro que eu até ajudava os outros coleguinhas nos exercícios.
Eu havia estudado outra 1º serie antes, só que não me lembrava de nada, pois tive que largar no meio do ano por conta de problemas familiares, lembro que no primeiro dia de aula minha mãe teve que ficar na sala de aula comigo até eu me adaptar, eu chorava muito e todos os coleguinhas me olhavam e eu morta de vergonha, acho que 2 horas depois eu me acalmei e minha mãe pode ir embora.
Antes de ir a essa escola, eu fui a “banca” como naquela época era chamado o reforço escolar, a pessoa que me ensinava não tinha paciência alguma e muitas ultilizava a “palmatória.” E até uns puxões de orelha quando eu não acertava os exercícios,
Eu chorava muito e hoje eu classifico essa difilculdade como déficit de atenção, certo dia tomei coragem não sei de onde, e sair correndo deixando àquela senhora em apuros, eu disse a minha mãe que não gostaria de voltar para aquele lugar.
Na Educação Infantil não chorei e fiz logo amizade era uma escolinha particular, eu amava aquele lugar, havia brincadeiras lúdicas que brincavamos o tempo todo, o papel de ofícil, a tinta guache, o E.V.A, giz de cera, e o que mais gostava era a massa de modelar, lembro que havia um horário específico pra cada atividade, adorava o horário do recreio quando todos em suas carteiras tiravam o lanche da lancheira aquele cheirinho de suco, eu toda feliz, pois minha mãe me deu uma lancheira rosa que eu amava. Ela me pegava na escola e eu ficava ansiosa pra voltar novamente.
Eu deveria ter uns quatro anos nessa ocasião, lembro-me da festa de amigo secreto, eu sair para comprar um presente que foi uma boneca linda enorme, e eu sentir que minha mãe fez um esforço muito grande para comprar, mas eu cheguei feliz na festa, estava tudo tão colorido com bolas de assoprar gigantes, as paredes enfeitadas com papel crepon, havia barquinhos feitos de cartolina, muitos doces, quebra pote...
Mas eu não me contentava, e queria mesmo era abrir os presentes e saber logo o que ganharia, e só pensava em minha amiga secreta, talvez tivesse tido mesma ideia de comprar uma boneca tão linda quanto a que eu comprei, e por ironia achei de atirar a minha chará e foi a mesma pessoa que me tirou, lembro da felicidade que foi dar a boneca a ela, e da tristeza quando recebi o meu presente, um brinco bem pequeno. Eu agradeci e voltei a brincar.
Tive pouco convívio com a escola, talvez seja esta a razão por eu ter escolhido o curso de pedagogia, embora tão distante eu prometo seguir a frase de John Dewey, um grande filosofo e pedagogo norte-americano, que diz: A meta da vida não é a perfeição, mas o eterno precesso de aperfeiçoamento, amadorecimento, refinamento.


Patrícia Lobo

Retrocesso a formação escolar!


Tenho vaga lembrança da minha infância. Recordo - me vagamente das brincadeiras, do amor platônico, das notas baixas, das lições de tabuada, da queda no pátio da escola, das apresentações de teatro, das festas juninas e natalinas entre outros. São essas lembranças que me fazem retroceder para a minha infância na escola e me fazem refletir o quanto é importante essa fase para o desenvolvimento da criança.
A escola por ser responsável em ampliar e diversificar nossas visões e interpretações sobre o mundo e da vida como um todo, utiliza diversos recursos para chegarmos a essas interpretações. O meu processo de aprendizagem não foi adequado para o desenvolvimento cognitivo de uma criança, já que, as escolas freqüentadas não possuíam metodologias que me envolvessem na concentração de uma leitura. Por não ter um acompanhamento escolar e familiar, não me tornei uma discente comprometida com os estudos, a preguiça e a falta de estímulo contribuíram.

O retrocesso a minha vida escolar inicia-se com a educação infantil na escola Trem da Alegria, localizava-se no bairro Caixa D’Água em Salvador. Recordo-me do ambiente escolar – casa pequena com a fachada azul e branca, salas pequenas e com seus móveis pequeninos, parquinho colorido... Lembro-me da professora Magda que me acompanhou nos três anos da pré-escola, não esquecerei daquela professora robusta, baixinha e muito amável. Em relação à metodologia adotada pela professora e pela escola não me recordo, mas lembro de duais atividades que eram propostas, o decalque da minha mão e da moeda – eu adorava ver a moeda surgir após o rabisco do lápis de cera na folha branca. Nesse período a relação família-escola foi muito boa, não haviam queixas sobre o meu comportamento, somente elogios no meu diário escolar, havia minha participação nas atividades promovidas pela escola e no final do ano tirávamos fotos para o anuário.

Ao concluir a pré-escola, iniciou-se uma turbulência na minha vida escolar. No ensino fundamental I e II, passei por diversas escolas sendo duais da rede pública e as demais da rede privada. Devido a dificuldades financeiras minha mãe não pode dar continuidade aos meus estudos na rede privada de ensino, por isso fui estudar no Centro Educacional Carneiro Ribeiro, localizado no bairro Pau Miúdo em Salvador. Nessa escola não tive uma alfabetização satisfatória. Recordo-me que as salas eram cheias e a professora não tinha domínio de classe, esse e outros fatores contribuíram no meu analfabetismo.
Por ironia, no final do ano tive festa de formatura sem saber ler e escrever. Como foi possível? E sua mãe não acompanhou o seu aprendizado? Essas são perguntas que eu não saberei responder, não por não ter curiosidade em saber, mas por preferir não relembrar a briga judicial dos meus pais.

Minha mãe ao se deparar com a minha situação decidiu me matricular novamente em uma escola particular, a qual ela fornecia lanche para a cantina, era o Colégio Ruy Barbosa, localizado no bairro Caixa D’Água. Finalmente nessa escola fui alfabetizada. A professora Rosa, apelidada de Mortiça do filme A Família Adams – devido à semelhança – nos ensinava com muita paciência o sistema numérico e o alfabeto. Lembro-me das histórias dos Irmãos Grim – Cinderela, Rapunzel, João e Maria – contados por ela e dando ênfase a bruxa malvada. Nós adorávamos a interpretação dela.
Através da literatura infantil, apresentada pela escola, pude notar o quanto a literatura é importante no desenvolvimento da criança.

A escola é um espaço privilegiado para se desenvolver o gosto pela Literatura Infantil. Aquela tem a função específica de proporcionar este encontro entre o livro e a criança de maneira que esta possa utilizar-se da Literatura para a compreensão de si, das coisas que a cercam e das relações entre ambas. (VALDRICH, publicado em 22/07/2002)

No ano seguinte fui transferida para a escola Crescimento, localizada no bairro do Pau Miúdo. Nessa escola cursei a minha segunda série – não cursei a primeira porque no meu histórico escolar constava que a minha primeira série havia sido concluída no Colégio Ruy Barbosa e não a alfabetização, que por sua vez constava concluída no Centro Educacional Carneiro Ribeiro.
A escola possuía uma boa estrutura com salas amplas, biblioteca, sala de vídeo, aulas de inglês, espaço recreativo com brinquedos pedagógicos e ecológicos. Não tive muita dificuldade com as matérias – exceto matemática –, pois a professora Rita utilizava métodos atrativos nas suas aulas, como ábacos, globos, jogos (tradicionais, educativos, faz-de-contas, construção), vídeos entre outros. Sempre fazia questionamentos e correlacionava os conteúdos com o nosso cotidiano, além de nos proporcionar um ambiente de respostas espontâneas. Por algumas características da metodologia de ensino adotada pela professora e pela escola, correlaciono com os pensamentos de John Dewey ao defender a democracia e a liberdade de pensamento como instrumentos para a maturação emocional e intelectual das crianças. “O aprendizado se dá quando compartilhamos experiências, e isso só é possível num ambiente democrático, onde não haja barreiras ao intercâmbio de pensamento” (DEWEY)
Através da escola Crescimento, pude perceber o quanto são importantes atividades lúdicas e atrativas para aprendizagem das crianças, pois matérias de difícil aceitação, como a matemática, podem ser transformadas em prazer ao estudá-las. Os jogos são parceiros nesse processo. Segundo Jonathas de Paula Chaguri[1], os jogos e brincadeiras são excelentes oportunidades de mediação entre o prazer e o conhecimento historicamente constituído, já que o lúdico é eminentemente cultural.

Não foi possível continuar na escola Crescimento porque eu e minha família (minha mãe e minha avó) nos mudamos do bairro de Caixa D’Água para morar no bairro da Liberdade. Minha mãe mais uma vez saiu em busca de uma nova escola e por recomendações de vizinhos me matriculou no Instituo Norma Rocha (INR), também localizado no bairro da Liberdade. Nessa instituição estudei da terceira a quinta série .
O INR tinha uma estrutura bem diferente das anteriores: uma casa com fachada antiga, os seus cômodos foram transformados em salas de aula, direção e até cantina, claro que houveram ampliações para a quantidade de turmas, apesar da pouca estrutura.
Recordo-me do dia que cheguei, achei tão feia a escola, mas fui mudando de idéia ao conhecer os colegas. Já da professora Jussara, não tenho uma boa recordação – ela foi a minha professora na terceira e quarta série. O seu método – acredito – baseava-se na teoria behaviorista defendida pelo psicólogo norte-americano Skinner. Todos os dias haviam sabatinas de leitura e tabuada, aqueles que respondiam corretamente eram premiados e os que não conseguiam eram punidos e forçados a repetição, ou seja, estávamos sujeitos ao estímulo-resposta behaviorista.
Como haviam as sabatinas, nós tínhamos que estudar antecipadamente, entretanto comigo era diferente, eu não estudava, não me importava. Minha mãe não tinha tempo para verificar se eu tinha feito as tarefas, então eu levava do meu jeitinho no dia seguinte. A minha estratégia era com a matemática, eu anotava a tabuada nas palmas das mãos e quando era a minha vez, ela perguntava e eu fingia que contava nos dedos, mas na verdade eu estava olhando as minhas anotações. Assim, na terceira e quarta séria eu obtinha minha nota sem me preocupar em estudar para o dia seguinte, sem saber que estava me prejudicando. Entretanto, a mentira veio ser descoberta quando eu estava na quarta série, por meu próprio desleixo, descuidei de esconder as minhas mãos, então à professora me perguntou o que era aquilo, em voz alta, na frente de todos os meus colegas, naquele momento me senti humilhada, entrei em prantos. Ela chegou a me levar para a sala da quinta série e me expôs para todos os outros colegas e professores. Fiquei com muita raiva, essa não foi uma postura adequada para uma porfessora, apesar do meu erro sei que poderia ser diferente. Não me recordo se contei para a minha mãe, mas mesmo que se tivesse contado ela não discutiria na escola.

São histórias assim, que me fazem refletir o quanto à famila é importante no processo de aprendizagem da criança. Sem uma boa estrutura familiar as crianças tem dificuldades de se desenvolverem como indivíduos críticos/reflexivos. Carlos Alberto de Souza Cabello[2] afirma que antes de incriminar ou descriminar um aluno no processo de aprendizagem é necessário rever ações de todos os envolvidos; pais, mãe, professores, a família como um todo e a partir destas reflexões entender as razões e dificuldades do não aprendizado.

No ano 2000, mais uma vez fui transferida de escola devido à mudança de residência para o bairro da Ribeira. Conclui a sexta e a sétima série no Colégio Estadual Paulo Américo de Oliveira (CEPA), localizada no bairro do Bomfim. No CEPA percebi o quanto a educação pública se encontra deteriorada. Não haviam professores e os que tinham alguns não eram compromissados com a educação. Vários problemas são facilmente encontrados, desde a sua estrutura física até o seu corpo discente, um exemplo muito comum nas escolas públicas é a falta de respeito com a carga horária das aulas, já que, os professores não comparecem nas escolas ou terminam suas aulas antes do tempo. A falta de comprometimento não pode ser justificada pelas péssimas condições salariais ou pelo mau comportamento dos alunos, acredito que estes fatores contribuem, mas não são decisivos .

(...) Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem importância capital para o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que pareço ser o que realmente estou sendo. (FREIRE, 1996, p. 96)


Em 2002, estudei no Colégio São José (CSJ), também localizado no bairro do Bomfim. O CSJ é uma instituição católica, dirigida por freiras e tradicional. Conclui a oitava série com muita dificuldade, pois o ensino era rígido e bem diferente das escolas que eu já havia passado. O corpo docente era de excelência, a estrutura também e as atividades propostas eram atrativas – vistas técnicas em museus, parques ecológicos, empresas de serviços públicos entre outros.
Entretanto, a minha inserção em uma nova realidade foi muito difícil, não pelas dificuldades nas matérias, mas pela discriminação dos próprios colegas de classe em relação a minha origem escolar. A minha transferência causou um choque social porque até então a turma não havia recebido uma estudante oriunda da rede pública de ensino. Com as dificuldades de relacionamento e aprendizagem fui encaminhada para o Serviço de Orientação Escolar (SOE)[3], onde minha mãe teve que comparecer na escola para conversar com uma psicopedagoga sobre o que ocorria comigo. Mas a minha insatisfação continuou, porque os problemas não foram resolvidos. Apesar de toda educação de excelência os alunos não sabiam lidar com as diferenças muito menos tinham noções de respeito, solidariedade, humildade.

A escola é um espaço das diferenças por isso temos que respeitar as diferenças para sermos respeitados, já que, todos nós temos limitações. Cabe aos professores transmitir os direitos e deveres que temos consigo e com os outros para serem evitadas ações como preconceito, discriminação, alienação e até mesmo marginalização.

A partir do ano de 2003, iniciou-se o meu amadurecimento como estudante e como profissional.
O ensino médio foi concluído no Colégio Estadual Deputado Manuel Novaes, localizado no bairro do Canela. O Manuca – apelidado carinhosamente pelos alunos – foi o responsável pela minha interpretação do que é realmente a vida. Apesar das deficiências na rede pública de educação, obtive oportunidades que me ajudaram na minha vida profissional e pessoal.
No Manuca convivi com muitas pessoas diferentes e sabíamos como respeitar essas diferenças. Tinham alunos que vieram de escolas particulares de grande porte, tinham alunos muitos inteligentes que vieram de escolas públicas, tinham os desinteressado, mas que nós ajudávamos, enfim, foi essa diversidade que me fez enxergar o quanto somos capazes de transformar algo negativo ou deturpado em algo positivo e de grande valor pessoal.

Na escola pública tive a oportunidade de participar em 2004 de um projeto social chamado Programa de Turismo e Responsabilidade Social (PTRS) – atualmente chamado de Trilha Jovem –, criado pelo Instituto de Hospitalidade (IH)[4]. O projeto é destinado na capacitação profissional na área de turismo para estudantes das escolas públicas de Salvador entre 15 a 21 anos. O curso teve duração de 6 meses, os quais não esquecerei as aulas de etiqueta, de inglês, de alimentos e bebidas (A&B), hospedagem e cidadania. No final do curso tivemos formatura no Centro de Convenções em Salvador, com a presença do ex - Ministro do turismo Walfrido dos Mares Guia.
Através da educação não-formal tive o meu primeiro emprego no Hotel Mercure Salvador S/A (Rede Accor Hotel), localizado no Rio Vermelho. Não sei descrever a emoção que tive ao ser contratada num hotel de quarto estrelas e de porte internacional.

A escola pública também foi responsável pela a minha inserção no nível superior. Fui contemplada com o Enem de 2007.2 para cursar Pedagogia no Centro Universitário Jorge Amado.
A escolha do curso não foi difícil, pois ao participar do PTRS conheci as coordenadoras do projeto e pude saber qual a profissão delas. Então, como o projeto me fascinou por ajudar pessoas, procurei obter mais informações sobre a Pedagogia. A cada nova informação que surgia eu me identificava mais principalmente em saber que poderia atuar em espaços escolares e não escolares. A vasta área de atuação fez com que eu formulasse os meus objetivos profissionais, um dos que considero importante é a criação de um projeto para ensinar inglês as crianças, a partir de 5 anos nas escolas públicas de Salvador. Busco com a minha capacitação profissional realizar esse objetivo porque sei o quanto é beneficente para as crianças nessa fase de aprendizado.

No nível superior encontrei professoras que amam a Pedagogia e se sentem realizadas profissionalmente. Tenho as professoras Giulia Fraga e Lynn Alves como referência para a minha formação. Outros professores também contribuem ao transmitir os seus conhecimentos sobre a educação e como podemos transformá-las.
Não basta querer para mudar o mundo. Querer é fundamental, mas não é suficiente. É preciso também saber querer, aprender a saber querer, o que implica aprender a saber lutar politicamente com táticas adequadas e coerentes com os nossos sonhos estratégicos. (FREIRE, 1993, p. 47)

Espero poder transmitir os meus conhecimentos aos meus alunos de forma clara, objetiva e sem interferir negativamente na vida de cada um, pois sei o quanto pode ser desastroso para um aluno não ter um professor com uma capacitação adequada no processo de ensino-aprendizagem.



[1] Graduado em Letras (Português/Inglês/Espanhol) e especialização em Letras e Literatura Infantil pela Faculdade Intermunicipal do Noroeste do Paraná, especialização em Ensino de Língua Inglesa e em Ensino de Língua Espanhola pela Faculdade Iguaçu. Atualmente é Mestrando em Educação pela Universidade Estadual de Maringá.
[2] É mestrando em Educação Matemática pela UNIBAN-SP, psicopedagogo (UNIBAN-SP) e especialista em Sistemas de Informação. Atualmente é professor da UniRadial e da Uniban.
[3] O SOE tem como objetivo principal auxiliar o educando, individualmente ou em grupo, visando o desenvolvimento integral e harmonioso da sua personalidade, levando-o a identificar suas potencialidades e limitações, adquirindo as habilidades necessárias ao processo decisório.
[4] O Instituto de Hospitalidade (IH) é uma fundação brasileira privada sem fins lucrativos, qualificada como organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), que gera e dissemina referências baseadas nas melhores práticas do turismo sustentável, promovendo a interlocução e a convergência das partes interessadas. Através da criação e implementação de projetos em todo o território nacional, o IH desenvolve soluções que visam a qualificação de pessoas, empreendimentos e destinos turísticos.



Larissa Batista



Minha vida escolar!

O Início da minha história estudantil

Lembro-me com muito carinho dos meus pais, antes mesmo que eu começasse á freqüentar escola já me ensinavam a importância da leitura para a formação de um cidadão. Lembro do apoio e do incentivo que os mesmos me davam para que eu me interessasse mais pelos estudos e pela leitura. Hoje os agradeço por ser quem eu sou, pois sendo eles os meus exemplos de vida me considero uma pessoa bem instruída e informada.

Tenho bem poucas lembranças da minha educação infantil, era uma escola particular em Nazaré das Farinhas no interior da Bahia. Recordo muito que desenhava, cobria letras e números, pintava e tinha muitas brincadeiras. De acordo com Tizuko Kishimoto (2000), “o jogo é fundamental para a educação e o desenvolvimento infantil. Quer se trate do jogo tradicional infantil, reduto da livre iniciativa da criança, marcado pela transmissão oral, ou do jogo educativo, que introduz conteúdos escolares e habilidades a serem adquiridas por meio da ação lúdica”.

Na alfabetização já consigo ter um pouco mais de recordações. A professora Ana era muito eficaz, ela sempre ensinava com desenhos e ate musicas o que acabava criando um clima descontraído, fazendo com que a turminha da época estivesse sempre atenta e incentivada a aprender. Foi nessa época que aprendi a ler e escrever, iniciando com as vogais, não me recordo como eram as músicas usada pela professora que na época chamávamos de tia, mas lembro-me muito bem que ao chegar em casa cantava a música toda para minha mãe. Com relação às consoantes, o processo foi um pouco mais longo, pois a professora além de ensinar as letras minúsculas, também ensinava as maiúsculas, sempre com o mesmo incentivo de utilizar as música para despertar o interesse da turma, dessa maneira, conseguimos aprender todo alfabeto. Foi nesse período que a professora deu um grande passo no meu aprendizado, ela começou a ensinar da junção de uma consoante e com uma vogal, comecei a aprender escrever da...de...di...do...du...., fazendo essa casadinha com todas as consoantes. E em seguida ela nos ensinou a formar as palavrinhas como: da+do=dado, pa+to=pato, entre outras. Depois disso para soletrar foi rapidinho era só falando e escrevendo.

Teve algo muito importante em meio, a todo esse aprendizado, o livro “A casinha feliz” marcou muito esse episodio tão importante da minha vida, foi nele que aprendi a ler e escrever era com base nesse livro tão marcante para mim, pois todos os dias era uma brincadeira nova que a professora fazia, e toda turma ficava ansiosa para chegar a hora de ir para escola, pois sabíamos que teria uma nova aventura com o livro.

As sextas-feiras, a professora sempre vinha com uma historia nova pra contar para turma, os livros que mais ficaram gravados na minha memória foram: branca de neve, os três porquinhos, a bela e a fera, entre outras historias infantis.

Tudo isso não teria tido sucesso se não fosse por meus pais que tiveram a sensibilidade de me matricular em uma escola e me dar todos os parâmetros possíveis para que eu viesse a aprender a ler e escrever, a professora foi muito competente ao me ensinar e minha mãe muito saiba ao me incentivar em casa a colocar em pratica o que tinha aprendido em sala de aula.

Já na 1ª serie com a professora Arlete, sempre dedicada, foi quando descobri que precisava de notas para aprovação, sempre fui uma aluna que estudava, o que menos gostava nesse período era o ditado, pois ao errar uma palavra, para aprender escrever corretamente tinha que copiar várias vezes, o que mais gostava era quando recebia o resultado das provas e sempre eram notas boas e da aula de educação física. Hoje compreendo que essas características fazem parte da tendência tradicional de ensino onde se valoriza exercício de fixação, como leituras repetitivas, cópias e superestima da prova como elemento central de avaliação.

Na 2ª. e 3ª. série tive o meu primeiro contato com escola pública, foi quando pude notar as diferenças. Diferenças essas relacionadas à qualidade do ensino oferecido por ambas as escolas. A História da educação no Brasil mostra que essa desigualdade é resultado de uma escola dualista que a alguns oferece uma educação mais refinada cabendo a outros apenas a elementar e profissionalizante. Segundo Althusser (2007) isso ocorre devido aos aparatos ideológicos do estado, quando a escola não oferece chances iguais para todos, mas, ao contrario, determina de antemão a reprodução da divisão das classes sociais.

Na 4ª. série, voltei para escola particular com a professora Márcia, gostava dela. Porém compreendo, que das professoras que tive no fundamental I eram menos preparada, não se importava em trazer coisas novas para ensinar, apenas transmitia o conteúdo, não atribuo o caráter conteudista das aulas á concepção tradicional, mas sim a falta de profissionalização. Afinal, acreditar que o magistério é um sacerdócio ou seguir a carreira docente por vocação são maneiras de depreciação do trabalho docente, que merece ser respeitado principalmente sob o aspecto do trabalho realizado, e não como ocupação desinteressada, amorosa ou mística.

No período da 5ª. a 8ª. série voltei para uma escola publica onde as minhas tias eram professoras. Lembro-me como era uma aluna bem comportada e tirava notas boas, os professores tinham bastantes conteúdos, mas nunca deram motivação a leitura. Como já era de costume decorar e colocar na prova estavam tudo bem, pois naquela época eu achava que para ser uma boa aluna bastava tirar notas boas.

No ensino médio, nessa mesma escola do estado, cursei o magistério. Eu gostava muito dos professores, sempre dispostos a passar metodologias de como ensinar. No entanto como eu já estava condicionada a estudar para a prova, não visando o meu desenvolvimento integral, tive diversas dificuldades principalmente no estágio, esforçava-me para quebrar minhas próprias barreiras. Entretanto, nos dias atuais ainda é um desafio envolver-me em escritas mais complexas.
Cristina Pereira

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Minhas Lembranças


Minhas lembranças

Sou aluna do curso de Pedagogia com 38 anos, mas vou contar como, e quando tudo começou.
Quando eu era bem pequenininha, menor do que sou agora, meu pai me ninava com uma música de Benedito Lacerda e David Nasser, interpretada por Nelson Gonçalves que dizia:




“Vestida de azul e branco

Trazendo um sorriso franco

Num rostinho encantador

Minha linda normalista

Rapidamente conquista

Meu coração sem amor

Eu que trazia fechado

Dentro do peito guardado

Meu coração sofredor

Estou bastante inclinado

A entregá-lo aos cuidados

Daquele brotinho em flor

Mas a normalista linda

Não pode casar ainda

Só depois que se formar

Eu estou apaixonado

O pai da moça é zangado

E o remédio é esperar”

Foi selado o meu futuro, vou ser professora.
Minha infância foi muito feliz, brinquei de tudo que tinha direito.
O período da educação infantil ao ensino médio , estudei em várias escolas, pois meu pai viajava muito e a família o acompanhava.
Na educação infantil o método usado em todas as escolas que estudei , tanto na capital quanto no interior do Estado, foi o tradicional. Nesse período estudei e brinquei. Brinquei mais do que estudei. Lembro-me vagamente dessa época de estudos, mas a hora do recreio, como poderia esquecer!? O momento mais esperado pelas crianças!
Morei em Senhor do Bomfim e em Itapetinga. Na primeira, morava em frente a uma praça enorme (ou acho que eu é que era pequena) e tinha um carrossel que eu gostava muito. Já em Itapetinga morava perto de um cemitério e achava o máximo, porque corríamos e brincávamos (eu, meus irmãos e alguns amigos) de se esconder no jardim do cemitério e, quando tinha algum enterro, íamos em casa calçar os pés, os meninos vestirem as camisas depois voltávamos para acompanhar o funeral como se fosse uma brincadeira, sem prestar atenção ou respeitar o sentimento e a tristeza dos que estavam ali. Isso não é para ninguém ficar assustado, pois eu tinha apenas sete anos. E o que uma criança de sete anos pensa sobre respeitar os sentimentos alheios?
A 3ª e 4ª séries, do Ensino Fundamental, estudei perto de casa. Quem me ajudava a fazer os exercícios era a minha mãe. Um dia aconteceu um fato que não esqueço. Fiz o que muitos filhos fazem, duvidei de minha mãe. Escrevi no caderno a palavra “LIQUIDIFICADO” (sem a letra R), minha mãe disse que faltava a letra no final. Mas como eu poderia está enganada? Duvidei e, minha mãe disse: – Se amanhã esta palavra estiver corrigida pela professora, você vai levar seis bolos. Adivinha! Aprendi a não duvidar de minha mãe. Hoje minhas duas filhas fazem o mesmo comigo, porém não bato nelas, convenço-as que estou certa.
Bem, saí do 1º Fundamental (antigo primário) e fui para ginásio. Estava importante. Colégio grande, mais professores, mais estudos, já que havia mais disciplinas. Um tempo muito bom. Da 5ª a 8ª série a Educação Física foi muito presente e eu gostava muito desta aula. Corria, jogava vôlei, basquete, futebol, baleado.
Tive bons e ótimos professores, não me lembro de nenhum professor ruim.
Sinto muito por não me lembrar o nome deles. A minha professora de Português da 7ª e 8ª séries era ótima. Colocava os alunos na classe em ordem alfabética e queria que todos escrevessem com letra cursiva, consertava sempre os erros ortográficos e caligrafias ruins, o que hoje não vejo em muitas escolas onde dizem que a criança deve ter liberdade para escrever, discordo. Sou pela Escola Tradicional, mas estou tentando me adaptar as novas tendências pedagógicas, pois sei que aquele sistema de decorar para responder uma prova, faz o aluno tirar uma nota até alta, mas depois o aluno esquece tudo o que decorou.
Segundo Paulo Freire, no livro Filosofia da Educação, de Maria Lúcia de Arruda Aranha, página 224, diz que:

As provas, instrumento central de avaliação, desviam o aluno do objetivo de “estudar para vida” por estar sempre preocupado em “estudar o que será avaliado”, ou seja, “estudar para a escola”. Se de um lado o professor “dá a lição”, de outro a prova representa o momento de “restituição’’, em que ele ’’toma a lição’’. É a chamada Educação Bancária.

Terminei a 8ª série e a minha mãe , que depois de muitos anos voltou a estudar e foi fazer Magistério, me matriculou no ICEIA e, pasmem com dois cursos nesta escola ela me matriculou em...
...Magistério. A música, do inicio das minhas memórias, começou a se confirmar.
Fiz os três anos de Magistério feliz, assim como no fundamental e no ginásio, não tive professores ruins. Naquela época aprendi muitas Didáticas, Recreações, Aulas Práticas, ESTÁGIO. Porém não fui trabalhar numa escola. Fui trabalhar num Banco e parei de estudar.
Casei com meu namorado que conheci quando estava no 2ª ano do Magistério, depois tive duas filhas. Fiquei muito doente. Me recuperei e, depois de 15 anos sem estudar fiz vestibular para 05 Instituições, 02 públicas e 03 particulares. Passei nas particulares, me matriculei na primeira que saiu o resultado ”Contábeis’’. Depois saiu e resultado da Faculdade Olga Metting, mas não fui fazer Pedagogia. Resultado , fiz só três semestres de Contábeis e fiquei sem estudar de novo.
Nesse período fiquei desempregada e resolvi dar reforço escolar em casa. Não tinha como fugir o meu destino de ser professora. Dava aulas a crianças de 03 a 11 anos e gostei, mas precisei trabalhar fora para ganhar um pouco melhor. Foi ai que resolvi fazer Pedagogia e estou feliz por isso.
Hoje na faculdade tenho 03 professores que admiro muito, e me espelho nelas para ser um pouco parecida com elas .
Sei que o caminho é longo, nem sempre fácil e com muitos obstáculos, mas não vou desistir, porque meus pais me mostraram que nunca é tarde de mais para recomeçar. Eles resolveram serem professores depois de muitos anos sem estudar e, isso para mim foi um estímulo, assim como minha cunhada que até hoje estuda para cada dia ser uma profissional melhor.
O pouco que lembro da minha época escolar é o suficiente para ser a pessoa com princípios que sou hoje.
Pretendo passar para meus futuros alunos bons exemplos e ser dedicada como faço com minhas filhas.
Não posso esquecer de dizer que no tempo que fui estudante e criança, não existia computador e fui feliz assim mesmo, brincando na rua.



Iris Litiere



sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ouvir Estrelas
Ora ( direis ) ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouví-las,
muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem,
quando estão contigo?

"E eu vos direi:"
Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas

(Olavo Bilac)